O transplante do bonsai.
Será mesmo necessário mudar o nosso bonsai de vaso?
Claro que sim, o bonsai vai precisar de mais espaço e sobretudo mais alimento porque o substrato antigo não consegue fornecer. Sem o processo de transplante as raízes vão ficar presas ao torrão e vaso, sem nenhuma possibilidade de crescerem e sem nutrientes para alimentar o bonsai.
O transplante do bonsai é uma fase necessária e indispensável na vida do bonsai.
Desde de fim do ano até meados de fevereiro para a maioria dos bonsais de folha caduca, fim de fevereiro início de março para coníferas e início de março para bonsai tropical que são os bonsais dito de interior.
O que é um bonsai de interior?
São os bonsais classificados na categoria bonsai tropical.
Em geral, a operação de transplante deverá ser feita a cada três a quatro anos, o torrão deve ter uma camada de raízes à sua volta, se não tiver pode não ser o momento certo para mudar de vaso e terá que esperar mais um ano. Se tiver dúvidas, basta retirar o seu bonsai do vaso e enviar-nos uma foto, via WhatsApp, do torrão com as raízes bem à vista e responderemos se é o momento ou não. Não são os anos que contam, mas sim o desenvolvimento do bloco radicular e conforme a evolução do bonsai ao longo dos anos, a progressão das raízes pode ser mais ou menos importante.
Não é recomendado transplantar com mais frequência, é indispensável dar tempo às raízes e ao bonsai ultrapassar o stress provocado por esta operação. Além do mais não se ganha nada em termo de crescimento, nem da parte radicular, nem da parte aérea.
Portanto, três a quatro anos é o prazo ideal para podar e reduzir as raízes e substituir o solo.
É claro que cortar raízes e ramos de maneira significativa como no caso do transplante vai causar stress ao bonsai e é lógico que não podemos exagerar na frequência, caso contrário podemos conduzir o bonsai a uma morta lenta.
AVISO:
Nunca transplantar um bonsai debilitado, se mexermos nas raízes de um bonsai muito fraco que já apresenta dificuldade em viver, não é mudando de vaso que vamos resolver o problema, pelo contrário, neste caso se cortamos algumas raízes podemos estar a condenar à morte o nosso bonsai. Muitos clientes trazem-nos bonsais debilitados pensando que o problema provém da falta de espaço no vaso, mas a causa principal tem que ser resolvida antes de mexer nas raízes, seja ela qual for, primeiro o bonsai tem que apresentar boas condições de saúde para poder reduzir tanto a parte radicular como a parte aérea.
Importante:
Quando reduzimos o sistema radicular temos que reduzir da mesma importância a massa foliar e a estrutura aérea.
E porquê?
Porque corremos o risco de ver o nosso bonsai perder força, se o volume da parte aérea for superior à parte radicular, a transpiração será igualmente superior à capacidade das raízes para conseguir alimentar a árvore e assim as folhas murcharão depressa, condicionando o sucesso do transplante e a própria vida do bonsai que irá secar mais rapidamente.
O transplante do bonsai tem como principal finalidade a renovação do substrato.
Com o tempo, o substrato fica mais fraco e temos que o substituir, é o objetivo do transplante juntamente com o corte das raízes muito compridas para provocar a ramificação de raízes mais finas junto ao tronco e também dar mais espaço ao torrão.
Podemos aproveitar igualmente para corrigir a posição do bonsai no vaso, endireitar a árvore ou mudar de posicionamento, é o momento ideal para o fazer e retificar a orientação sem causar qualquer prejuízo ao nosso bonsai, já que temos de cortar uma parte do sistema radicular.
Quando inclinamos um bonsai mais par um lado, temos que compensar debaixo das raízes com mais substrato em relação ao outro lado e neste caso tem que ficar firme quando colocamos o arame para segurar o torrão. É um detalhe da máxima importância, senão o bonsai pode voltar à posição inicial.
Quando transplantamos, não devemos escolher um vaso muito maior, por norma acrescentamos somente mais cinco centímetros à medida do vaso antigo. Também é possível manter o mesmo vaso, por exemplo se o nosso bonsai não desenvolveu uma massa foliar importante e a respetiva estrutura de ramos e galhos, pode não se justificar passar para um vaso maior. Cada caso é um caso e não é o calendário nem o tempo que manda, mas sim a condição do bonsai a cada ano. Se tiver um bloco de raízes muito compacto e muito desenvolvido devemos então fazer o transplante, se não for o caso e que as raízes no seu conjunto não estão muito sobrepostas, então é aconselhado esperar mais um ano.
Ler artigo sobre como escolher o vaso para o bonsai.
O mais importante no transplante é a renovação do substrato e o corte de uma parte das raízes mais grossas para provocar o nascimento de raízes mais finas.
Mas cuidado com o substrato. Existem muitos substratos para bonsais no mercado, pelo menos é o que está marcado na embalagem, com foto de um bonsai magnífico e sobretudo um preço muito atrativo, são quase sempre à base de turfa, de gravilha ou argila vulcânica misturado com fibra de coco, mas a escolha certa é a garantia para uma boa saúde do bonsai.
Quais as principais qualidades de um bom substrato para ter bonsais sãos e bonitos?
Um bom substrato deve reter a humidade necessária e deve garantir a circulação do ar e da água.
No Japão os profissionais não usam qualquer tipo de mistura comercial, mas sim substratos específicos para bonsai e na iberbonsai seguimos os mesmos princípios.
Aconselhamos sempre a akadama hard quality para a maioria dos bonsais, kiryuzuna para os pinus e juniperus que podemos misturar com cinquenta por cento de akadama hard quality para árvores mais jovens, kanuma para azáleas e rododendros que também podemos misturar com cinquenta por cento de akadama hard quality para árvores mais jovens.
Para os aceres utiliza-se uma mistura de setenta por cento de akadama hard quality e trinta por cento de kanuma selected. Nas árvores mais velhas podemos acrescentar pómice para melhorar a drenagem do substrato.
Na iberbonsai fornecemos várias misturas já prontas para proceder de imediato ao transplante de azáleas, rododendros, aceres, pinus, juniperus e outras coníferas.
Oferecemos igualmente a pómice em embalagens de um até dezoito litros, substrato interessante para mistura, pois a sua estrutura evita a compactação do torrão.
Alguns clientes indicam ter feito o transplante de coníferas unicamente com pomice, foram aconselhados por membros de clubes de bonsai em Portugal, só que existe um problema com a rega sobretudo no verão e mais tarde começam a aparecer ramos secos devido à falta de água. Não podemos esquecer e vale sempre a pena relembrar que uma conífera como um pinus ou um juniperus pode levar vários meses até manifestar sinais de falta de água. A pómice utilizada sem ser misturada com outro substrato não é suficiente para reter a água que o bonsai necessita. Achamos um pouco arriscado e por isso é preferível misturar akadama por precaução, a akadama retém mais facilmente a água, fator decisivo em dias quentes. A pómice pode ser comparada com a kiryuzuna que, também não pode ser utilizada só, mas misturada com akadama, exceto quando é manuseada por profissionais em bonsais mais velhos, aí sim, é possível transplantar com kiryuzuna unicamente.
Sobre a pómice:
- A pedra-pomes ou pomice é um substrato vulcânico de Itália, que é extraído em diferentes partes de país.
- A principal característica da pomice é na realidade a parte interna da rocha, que é composta por uma quantidade incrível de condutas intercomunicantes.
- As propriedades particulares da pomice são a sua leveza e porosidade, pelo que é normalmente usada em várias culturas ornamentais e hortícolas, bem como no cultivo do bonsai.
- Misturada com outros substratos, é um excelente meio de cultivo com boas propriedades de drenagem, retenção de água e troca química, importante para a nutrição vegetal.
- É um produto natural resultante da extensão natural do mineral efusivo magmático, que gerou um produto alveolar de notável leveza, alta porosidade, lenta libertação de líquidos e grandes propriedades isolantes.
- É um produto cem por cento natural, absolutamente ecológico e portanto, recomendado e adequado para aplicações na jardinagem e para o cultivo de plantas e bonsais.
Ler o nosso artigo original sobre a pomice para bonsai.
Existe agora um novo substrato, muito resistente no tempo e parecido com a kiryuzuna em termo de dureza, chama-se sakadama.
É um produto relativamente novo, originário de África do Sul.
O sakadama é composto por atapulgita, um mineral de alta qualidade com PH neutro, da subsclasse de silicates chamados filossilicatos, pertencente ao grupo de argilas mais absorventes.
As próprias características da atapulgita, com uma baixa densidade, alta porosidade e uma grande superfície específica de trocas, são melhoradas pelo processo de fabricação especial sakadama.
Este processo de fabricação consiste na extração, triagem e processamento a uma temperatura de seiscentos graus centígrado num forno rotativo. Isso provoca uma alta dureza de particulas, permitindo que o produto seja usado por muitos anos porque não se decompõe tão facilmente. Além disso, é mais resistente a danos devido ao mau tempo, especialmente contra o congelamento.
A cozedura a alta temperatura melhora a capacidade de abosrção de nutrientes, que resulta numa grande capacidade de troca catiónica.
O que é um ião?
É um corpúsculo com carga elétrica positiva chamado catião ou negativa neste caso anião que resulta de um átomo ou grupo de átomos que perdeu ou ganhou eletrões. É o caso de Na+ ião sódio, CA2+ ião cálcio, NH4+ ião amónio por exemplo.
Por outro lado, a sua granulometria, a ausência de poeiras e a sua alta porosidade melhora a drenagem, minimizando o risco de asfixia das raízes.
Como utilizar sakadama?
Podemos utilizar sakadama puro:
- O uso de sakadama como único componente é possível, embora sua dureza, a ausência de poeira e a sua grande capacidade de drenagem, exigirá mais atenção e conhecimento profundo da cultura, especialmente no que diz respeito à irrigação. Neste caso, o uso de fertilizantes orgânicos, além de outros métodos de fertilização é essencial, tanto para o fornecimento de nutrientes como para a melhoria estrutural do substrato, entre outros fatores para melhor retenção de humidade.
Sakadama cinquenta por cento mais akadama cinquenta por cento:
- Substrato particularmente adequado para árvores de folha caduca, embora também recomendado para todos os tipos de bonsais, para amadores com um certo nível de conhecimento.
A akadama é um dos materiais mais utilizados no cultivo do bonsai. Requer uma boa irrigação e um bom controlo dos nutrientes, bem como o uso de fertilizantes orgânicos sólidos. Se adicionamos sakadama à mistura, dará ao substrato mais durabilidade, espaçando assim o tempo entre transplantes. Em contraste, se usado em áreas com baixas temperaturas submetidas à geadas, o subtrato apresentará menos degradação. Portanto é mais uma vantagem da sakama.
Vamos agora prosseguir com as nossas explicações sobre o transplante.
Um detalhe de máxima importância é não esquecer de colocar as redes nos furos maiores do vaso. Na iberbonsai temos redes quadradas de trinte e cinco milímetros, de cinquenta e dois milímetros e de oitenta milímetros. As nossas redes têm a particularidade de possuirem umas patilhas, que devem ser colocadas viradas para baixo e em contacto com o vaso, a função delas é deixar passar a água em excesso em direção ao furo do vaso, o que é crucial para evitar o apodrecimento das raízes.
Vemos muitas redes parecidas com pano de plástico que podemos recortar à medida e certas redes sem as patilhas, mas todas são nocivas para a evacuação da água e favorecem a decomposição das raízes por excesso de humidade. A rede não pode estar em contacto direto com a base do vaso, é uma das nossas principais preocupações quando praticamos um transplante e um fator de sucesso na recuperação do bonsai a seguir à mudança de vaso.
Nos furos mais pequenos passa-se o arame de alumínio anodizado que vai segurar o bonsai ao vaso, fazendo um nó por cima do torrão.
E porquê?
Se não o fizemos corremos o risco de partir as novas raízes finas e tenras ao mexer no bonsai, até sem o fazer de propósito, basta um pequeno toque aquando da rega por exemplo para quebrar algumas raízes que são vitais neste período de recuperação após o transplante.
NOTA:
- O arame que vai segurar o bonsai ao vaso nunca deve ser muito fino, vemos muitas vezes bonsais de clientes, envasados e presos ao vaso com arame de um milímetro, é um verdadeiro perigo, por ser muito fino, o arame irá mais facilmente cortar ou ferir a raiz sobre a qual foi posto. O tamanho recomendado para evitar este tipo de situação é de dois milímetros e meio a três milímetros.
Por segurança podemos colocar entre o arame e as raízes superficiais no torrão uma rede de plástico para servir de almofada e evitar que o arame corte a raiz.
A seguir coloca-se um pouco de substrato no fundo do vaso.
Depois de desembaraçar as raízes com a ajuda de um ancinho concebido para o efeito, quer isso dizer com dentes arredondadas para não as cortar, convém reduzi-las de pelo menos vinte a trinta por cento. Colocar o bonsai no vaso e prender com o arame.
Ver os nossos ancinhos.
Continuar a colocação do substrato até encher o vaso por completo.
Atenção:
- Conforme se enche o vaso é necessário empurrar o substrato dentro das raízes com um pau fino e arredondado na ponta para não as ferir.
- Regar a seguir ao transplante e aplicar vitaminas para ajudar na recuperação.
Exigimos muito do substrato porque é a base principal para conseguir o bom desenvolvimento do bonsai.
As principais qualidades encontram-se na drenagem e na aeração, fatores primordiais para a criação de raízes finas, na capacidade de retenção da água e dos nutrientes.
Por isso devemos esquecer a terra de jardim, areia do rio e outras misturas que acabam por ser muito difíceis de controlar e podem ser portadores de micróbios.
O substrato deve ser adaptado a cada espécie e idade da árvore, não se pode utilizar a mesma mistura nem a mesma granulometria para um pinus ou para uma azálea.
Também o substrato não pode perder qualidade ao fim de poucos meses, ficando empapado ou reduzido a pó. Deve ser são e limpo, não conter nenhum resíduo nem micróbios ou bactérias.
Um bom substrato não deve ser nutritivo, quer isso dizer que não pode conter nutrientes, assim será mais fácil controlar a adubação.
Ler artigo original sobre a fertilização do bonsai.
Aconselhamos sempre a utilização de akadama, é a terra ideal para o bonsai. Com PH neutro de 6,5 a 6,9. É insubtituível.
É uma argila japonesa de origem vulcânica, composta por grãos reconstituídos e sem nutrientes.
Drenagem perfeita, conserva a humidade, deixe circular o ar e a água, retém os nutrientes que são os elementos fundamentais para o crescimento do bonsai.
Existem várias granulometrias nos substratos, a mais pequena SS é akadama shohin até dois milímetros, S até seis milímetros, M de seis a nove milímetros e várias qualidades conforme a cozedura.
Quais os diferentes tipos de substratos para o transplante do bonsai?
- Akadama regular quality, com grau de dureza medio e para envasamento de curto prazo, mais ou menos um ano. Passado este tempo vai perder a sua dureza e ficar cada vez mais decomposto.
- Akadama hard quality double red line ibaraki com elevado grau de dureza que permite envasamento de três em três ou de quatro em quatro anos. Adicionar sakadama ou pómice na mistura pode prolongar o prazo de envasamento.
- Kanuma selected é utilizada para plantas acidófilas como azáleas, rododendros, magnólia etc... Também convém misturar com akadama hard quality nas árvores mais jovens.
- Kiryuzuna para coníferas como pinus e juniperus. Nos bonsais mais jovens e para principiantes é aconselhável misturar metade de akadama hard quality com kiryuzuna para evitar problemas com a rega.
- Keto, especialmente concebido para constituição e montagem de florestas ou Yose-Ue em lajes ou pedras.
- Pomice, substrato muito leve e sobretudo muito mais acessível, mas cuidado porque se utilizado sem qualquer outro substrato pode levar à secura que como mencionamos anteriormente, nas coníferas só iremos descobrir muito mais tarde e neste caso já não haverá nada a fazer, o bonsai irá morrer.
- Sakadama, substrato recente proveniente da África do Sul, excelente para misturar com akadama por prolongar o prazo do transplante e também ajudar no período de gelo retardando o momento de congelamento do substrato.
Ler artigo original sobre substrato para bonsai.
Ler também o transplante parte 2