Alporquia do bonsai.
A alporquia é um método de propagação vegetativa idêntico à propagação por estacas, ou seja, a partir da alporquia obtemos exactamente o mesmo espécimen que a planta-mãe.
Embora não seja o método mais comum de multiplicação no mundo do bonsai, ainda assim é interessante conhecermos o processo.
Este fenómeno chama-se rizo génese, o que significa a formação e aparecimento de novas raízes.
A alporquia do bonsai permite-nos obter um clone da árvore que queremos propagar
Ou seja, uma cópia exacta da árvore mãe, ao contrário das sementes, que, muitas vezes podem produzir uma planta diferente da árvore original.
A outra vantagem da alporquia é que nos permite propagar ramos com um diâmetro de vários centímetros, ou mesmo dez centímetros e mais, o que é impossível com estacas.
Por outro lado a taxa de sucesso da alporquia é muito mais elevada e segura do que as estacas, uma vez que o ramo que decidimos propagar é sempre alimentado pelas raízes da planta-mãe, o que lhe permite continuar a viver normalmente, pelo menos até ao momento do desmame, quando separamos a alporquia enraizada da planta-mãe.
A maior vantagem deste processo de propagação é a poupança de tempo que conseguimos obter, pois podemos conseguir um pre-bonsai com vários centímetros de diâmetro em apenas um ou dois anos. A única comparação que permite poupar tempo é a prática de Yamadori, o nome dado à colheita de árvores directamente do meio selvagem e à sua transformação em bonsai.
Existem vários tipos de alporquia, mas apenas a alporquia aérea é utilizada no bonsai.
Alporquia enterrada ou Mergulhia SASHIKI em japonês:
É reservada para plantas com ramos flexíveis. Isto consiste em dobrar um ramo em direcção ao solo e enterrá-lo, deixando a extremidade exposta, sem o cortar da planta-mãe.
As raízes irão então crescer na parte enterrada. Neste caso, o solo deve ser mantido húmido e bem drenado para evitar o apodrecimento do ramo.
No Outono será possível separar o ramo com a alporquia da planta-mãe, cortando-o logo abaixo do início do bloco de raízes.
Alporquia em cepo:
Este tipo de alporquia é utilizado principalmente para a propagação de árvores de fruto e porta-enxertos. Durante o Inverno, a planta-mãe é podada a cerca de dez centímetros do solo, na Primavera formam-se novos ramos e quando atingem cerca de dez centímetros de altura, formamos um monte de terra para os cobrir. No Inverno seguinte, estes novos ramos que já criaram raízes podem ser cortados.
Alporquia aérea ou TORIKI em japonês:
Este é o método de propagação do bonsai mais utilizado e sobretudo o mais fácil e menos dispendioso.
É uma técnica de propagação de planta praticada acima do solo, executada directamente sobre um caule lenhificado, ou seja, com a aparência de madeira.
Geralmente feito na Primavera em árvores perfeitamente saudáveis, com uma massa foliar favorável ao crescimento da árvore, caso contrário a alporquia poderia não sobreviver.
O desmame, ou por outras palavras, a separação do rebento da árvore-mãe, tem lugar no inverno ou, o mais tardar, na primavera seguinte.
Como fazer uma alporquia aérea com sucesso?
A boa escoha do ramo:
Escolher um ramo saudável e bem alinhado que já esteja predisposto a formar um bonsai, com ramos bem estruturados, facilitando o trabalho futuro de estilização.
Um ramo completamente nu, sem qualquer ramificação, não tem qualquer interesse.
Muitas vezes aproveitamos a oportunidade para corrigir um erro numa árvore, sem a danificar e assim realizamos dois trabalhos ao mesmo tempo, o primeiro para rectificar um movimento inestético e o segundo para ter uma planta idêntica à nossa árvore. É o caso, por exemplo, de uma árvore de bonsai que consideramos demasiado alta e que queremos reduzir, pelo que a alporquia nos permite baixar a altura do nosso sujeito principal e em troca obtemos uma nova árvore que podemos treinar como bonsai.
Como realizar uma alporquia?
1 - retirar os rebentos e folhas com mais ou menos vinte a trinta centímetros.
2 - podar a casca: com uma faca ou melhor ainda com uma faca de enxerto, fazer um primeiro corte. A incisão deve formar um anel à volta da haste. Fazer uma segunda incisão, outro anel, a cerca de cinco centímetros da primeira e agora ligar os dois por uma incisão ao longo do ramo.
Se o espaço entre as duas incisões for demasiado pequeno, menos de um centímetro, existe o risco de as duas partes ficarem juntas, não deixando qualquer hipótese de criar novas raízes.
Em seguida, remover a casca cortada.
Dica:
O anel que fica mais longe do tronco ou ramo principal deve estar por baixo de um gomo, que é o único local possível para o nascimento de novas raízes.
Eventualmente, mas não é nenhuma obrigação, podemos polvilhar a áerea onde removemos a casca com uma hormona de enraizamento.
3 - aplicar uma boa camada de musgo esfagno previamente humedecido à volta do ramo onde removemos a casca. Também podemos utilizar Akadama ou substrato de cultura, peneirada e drenante. O objectivo é recriar um meio propício a criação e desenvolvimento de novas raízes.
4 - envolver tudo com uma manga plástica ou com uma garrafa de plástico cortada ao meio por exemplo, e prender com arame de alumínio ou ráfia, começando pela parte inferior.
5 - envolver tudo com folha de alumínio para esconder a alporquia da luz.
Importante: qualquer que seja o material escolhido para envolver o substrato, garrafa de plástico ou vaso de plástico cortado ao meio, a manga deve ter em qualquer caso alguns furos na parte inferior para deixar sair o excesso de água. De facto é importante lembrar que a água de chuva escorre pelo ramo e entra sempre no torrão, pelo que é essencial assegurar que sai, caso contrário existe o risco de apodrecimento e nenhuma possibilidade de obter novas raízes.
Com alguma regularidade podemos verificar o estado do torrão removendo algum musgo ou substrato e ver se começam a aparecer novas raízes especialmente para nos certificarmos que o musgo ou substrato está suficientemente húmido para permitir o aparecimento de raízes novas.
Quando um sistema radicular suficientemente grande se tiver formado, podemos então separar permanentemente a alporquia da planta-mãe.
Isto pode levar alguns meses a um ano, dependendo da espécie.
Cortar o ramo da alporquia logo abaixo das raízes e replantar imediatamente numa mistura leve e drenante, mantendo um nível de humidade constante.
Pode ser com akadama, um substrato que evitará o risco de apodrecimento das raízes, mantendo ao mesmo tempo uma humidade suficiente e promovendo o arejamento radicular necessário.
Este é um momento crucial para a nova planta porque até agora era alimentada pela planta-mãe, agora são as suas próprias raízes que a devem alimentar, por isso é muito importante não ficar sem água e sobretudo não cometer o erro de fertilizar, qualquer adubo utilizado poderia queimar as novas raízes.
A alporquia está mais difundida para a multiplicação de árvores folhosas, embora que por vezes torna-se muito difícil em espécies como o carvalho.
DICA:
No caso de coníferas ou resinosas, não é aconselhável remover parte da casca, neste caso procedemos de forma diferente, sem fazer qualque incisão, apenas colocando um torniquete de arame grosso de alumínio, muito apertado em torno do ramo ou tronco que pretendemos multiplicar.
Nota:
- Nunca usar arame de cobre, uma vez que é muito tóxico para as raízes.
As raízes podem demorar muito mais tempo a aparecerem em coníferas do que em árvores folhosas, uma vez que este fenómeno pode durar várias estações.
É suficiente verificar constantemente o estado de desenvolvimento das raízes removendo um pouco de musgo ou substrato e só quando o bloco de raiz está bem desenvolvido é que separamos a alporquia da planta-mãe.
Em resumo, a alporquia do bonsai é mais um método de multiplicação que temos à nossa disposição para conseguirmos um bonsai
O mais fácil é e será sempre a sementeira para as plantas predispostas a este tipo de reprodução e para os mais experientes no que toca ao cultivo temos a estaquia e por fim existe também a enxertia, método muito pouco utilizado em bonsai, mais comum para corrigir erros grosseiros no bonsai.
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