O transplante do bonsai - parte 2
Como já vimos num precedente artigo no transplante do bonsai parte 1, o bonsai não pode ficar sempre no mesmo vaso, nem no mesmo substrato.
A renovação das raízes é primordial porque, depois de alguns anos, as raízes invadem a totalidade do vaso, chegando a impossibilitar a rega. O torrão é tão duro e tão compacto que não deixa passar a água e neste caso só mergulhando o vaso durante muito tempo se consegue regar o bonsai como deve ser.
A poda das raízes a cada três ou quatro anos, vai contribuir para um melhor desenvolvimento das mesmas, permitindo assim uma boa ramificação dos ramos correspondentes.
O transplante do bonsai é um fator fundamental na vida do bonsai.
Mas será que podando as raízes do meu bonsai é suficiente para manter a forma reduzida?
A resposta é não e temos que ter em mente que a poda das raízes não tem nenhuma influência na redução do porte da árvore. Não é quando se reduz mais as raízes que iremos obter a respetiva diminuição da parte aérea, é uma ideia falsa. Portante temos que ter cuidado aquando do corte exagerado das raízes que pode até levar à morte do bonsai, porque se o bloco radicular não tiver raízes finas suficientes após a poda do mesmo, então estaremos a enfraquecer a nossa árvore.
Só a poda dos ramos e galhos têm consequência no aspeto final da árvore, ou seja, na miniaturização da mesma.
Como mencionamos em transplante do bonsai parte 1, nem sempre é necessário mudar de vaso por um de maior dimensão, basta respeitar o aspeto estético e o equilíbrio.
Nada impede que o bonsai fique no mesmo vaso mais um, dois ou três anos, desde que seja alimentado com nutrientes suficientes para sobreviver.
Só o facto de transplantar um bonsai não chega para o manter pequeno, pelo contrário, ao mudar o substrato, estamos a favorecer o efeito dos nutrientes para ajudá-lo a crescer com ainda mais vigor.
O quê que o transplante do bonsai permite?
- A renovação e a troca do subtrato empobrecido por um substrato novo e de boa qualidade;
- Dar mais espaço a uma árvore presa num vaso com tamanho reduzido;
- Modificar a disposição do bonsai no vaso, endireitar ou colocar mais de um lado ou do outro, mais alto ou mais baixo, etc.
Mas, o que acontece se não fizermos o transplante do bonsai?
Com o tempo o substrato fica mais pobre, já não possui as qualidades necessárias para reter os nutrientes e deixar circular o ar e a água da rega. Pode ficar tão comprimido que pode até não deixar passar a água e fragilizar cada vez mais o bonsai a cada dia que passa. Com dificuldades para reter a água, também os nutrientes não ficarão retidos no subtrato, privando o bonsai de alimento. As raízes já não têm para onde ir e o torrão começa a levantar-se do vaso, o que não é bom sinal.
Estamos muitas vezes a adiar para o próximo ano para realizar um transplante, muito por causa do preço do material, mas não podemos exagerar, senão corremos o risco de perder o nosso bonsai.
Atenção:
Não é por verificar que o torrão está a levantar-se do vaso, o que habitualmente acontece no período de maior crescimento, ou seja, na primavera, que devemos logo pensar em realizar o transplante, temos que respeitar a altura própria, mesmo que isso implique esperar até ao fim do ano. Neste caso e por segurança, temos que praticar a rega por mergulho completo do torrão e deixá-lo tempo suficiente na água, até não sair nenhuma bolha de ar, para garantir uma rega inteira e isso pode levar algum tempo, dependendo do tamanho do vaso.
Repetir a operação quando o bonsai começar a ficar mais leva, basta por isso ter o hábito de reparar na diferença de peso antes e depois da rega. Com experiência e rotina será mais fácil perceber quando o bonsai precisa de água.
O transplante realiza-se apenas quando o torrão ficar coberto de raízes, conforme imagem a seguir:
A seguir vamos explicar o transplante do bonsai passo a passo:
Passo 1:
Numa primeira fase convém retirar o bonsai do seu vaso antigo utilizando um ancinho espátula para descolar o torrão do vaso e de seguida começar a desenlear e soltar as raízes com a outra parte do ancinho, ou seja, os dentes. Primeiro à volta do torrão e a seguir por baixo da árvore. O processo deve ser suave, basta pentear as raízes com alguma delicadeza para não as ferir e evitar quebrá-las sobretudo na parte mais perto do bloco que iremos deixar. O corte final da raiz deverá ficar o mais limpo possível para não causar danos que poderiam atrair bactérias ou fungos e engendrar doenças.
Quando fazemos o transplante do bonsai, convém deixar sempre pelo menos metade do torrão existente.
Passo 2:
A seguir cortamos as raízes quase rente ao torrão, com uma tesoura grossa. Convém trabalhar com ferramenta limpa e bem afiada para conseguir um corte o mais limpo possível.
NOTA:
- Para cortar as raízes existem podadoras próprias, mas em relação às tesouras, temos que prever uma tesoura específica para raízes, a mesma tesoura não pode servir para cortar raízes e ramos, porquê? Porque mesmo limpando as raízes com um ancinho, teremos sempre a presença de grãos de areia ou terra e é precisamente isso que prejudica e danifica a nossa ferramenta. Portanto, e como regra de ouro, a nossa caixa de ferramentas deve ter duas tesouras grossas distintas, uma para cortar raízes e outra para podar galhos e ramos.
- Para podar os galhos e os ramos, uma boa tesoura serve para os cortes até cinco milímetros de diâmetro.
- Para cortes de ramos com diâmetro superior é aconselhável utilizar uma podadora côncava reta, que é uma podadora de ponta angular desenvolvida para a retirada de galhos grossos. Tem um corte limpo e perfeito. Na iberbonsai disponibilizamos podadoras de cento e setenta e cinco milímetros, de duzentos milímetros e de duzentos e oitenta milímetros, de origem da China ou do Japão.
Regra geral cortamos de vinte cinco a trinta por cento do comprimento das raízes. reduzimos igualmente da mesma percentagem a parte aérea, cortando galhos e ramos, seja folhosa ou conífera. No caso das folhosas, visto o transplante acontecer no inverno e sobretudo sem folhas, temos que pensar na futura rebentação e assim diminuir o volume de galhos.
Chamamos aqui a atenção para ter o cuidado, antes de cortar, de escolher sempre executar o corte acima de um futuro broto que irá nascer do lado de fora da estrutura da árvore e não do lado interior do tronco, o objetivo é evitar o cruzamento dos ramos para não ter de os suprimir mais tarde.
Não basta cortar de qualquer maneira para reduzir a massa foliar, os nossos gestos ao executar este trabalho terão repercussão na próxima rebentação e no aspeto futuro do nosso bonsai.
Se devemos podar galhos ou ramos com diâmetro superior a cinco milímetros, então convém aplicar uma pasta cicatrizante. O objetivo da pasta cicatrizante é proteger o bonsai da agressão externa, impedindo que o ar e doenças afetem a ferida.
Um corte com ferida aberta é duplamente perigoso para o bonsai, primeiro porque vai deixar fluir a seiva fora do galho, enfraquecendo assim a sobrevivência do nosso bonsai e segundo porque representa uma porta aberta às doenças e bactérias diversas podendo levar à morte do galho ou ramo e até do bonsai. A água também podia penetrar no interior do ramo e provocar o seu respetivo apodrecimento.
Nunca aplicamos pasta de cicatrização nos cortes de raízes, a própria presença do substrato impedirá a perda de seiva e a entrada de parasitas, desde que o transplante seja realizado como deve ser e que nenhuma parte da raiz fica exposta ao ar e sem substrato à sua volta.
Não confundir a pasta de cicatrização com a pasta de enxerto, que se destina apenas a evitar que a ferida seque e não proteje contra enfermidades.
Na iberbonsai fornecemos pasta cicatrizante em tubo, muito prático por ser mais mole e pasta em boiâo para folhosas e coníferas, um pouco mais difícil de aplicar por ser mais consistente.
Ler artigo original sobre a cicatrização do bonsai e a pasta cicatrizante.
NOTA:
- Após o corte, a casca deve permanecer presa ao ramo para evitar a entrada de parasitas. Não basta proteger o corte em si se a casca estiver descolada nos lados.
Nesta fase o bonsai está pronto para ser envasado.
Passo 3:
Escolher o vaso e colocar as redes em cima dos furos maiores e com as patilhas viradas para baixo, no fundo do vaso, ficando preso com ajuda de arame de alumínio anodizado que deverá ter pelo menos dois milímetros de diâmetro, conforma imagens abaixo:
Ver as nossas redes
Ler artigo original sobre vasos para bonsai.
Passo 4:
Estabilização do bonsai no vaso.
Cortar de vinte a quarenta centímetros de arame de alumínio anodizado, consoante o tamanho do vaso e do respetivo bonsai e passá-lo nos furos mais pequenos, a parte solta passa no interior do vaso e virada para cima.
NOTA:
Nunca utilizar um arame muito fino, inferior a dois milímetros, podia causar danos irreparáveis cortando as raízes. Preferir um arame de dois milímetros e meio até três milímetros e se for preciso, colocar uma rede ou outra proteção entre o arame e o torrão para preservar e não cortar as raízes.
Ver os nossos arames de alumínio anodizado.
Passo 5
O substrato.
Escolher sempre um substrato adequado, com a máxima qualidade que garanta a drenagem, o arejamento e a retenção dos nutrientes.
Como vimos no artigo precedente, recomendamos sempre a utilização de akadama hard quality double red line para a maioria dos bonsais, kiryuzuna para os pinus, juniperus e outras coníferas, kanuma selected para azáleas e rododendros.
Da qualidade do substrato depende o crescimento saudável do bonsai.
Ler o nosso artigo origuinal sobre o substrato para bonsai.
Começar para colocar um montículo de substrato no meio do vaso, sem espalhar.
Passo 6
Colocar o bonsai no vaso e passar os respetivos arames através do torrão.
Mover o bonsai em pequenos círculos horizontais em cima do substrato até ele ficar na posição certa.
Retirar o torrão e verificar se todas as partes entraram em contacto com o substrato, se não for o caso acrescentar mais solo no montículo e repetir a operação.
Podemos humidificar ligeiramente as ráizes para facilitar a operação, assim o substrato ficará colado nelas nos sítios correspondentes.
Passo 7
Cruzar e torcer os arames na parte superior do torrão conforme imagem abaixo. Podemos utilizar o nosso alicate jin para o efeito, referência 85 do nosso site.
Passo 8:
Encher passo a passo o resto do vaso, mas atenção, o segredo está aqui.
Colocar um pouco de substrato no vaso e empurrar com um pauzinho afiado, mas com a ponta arredondada para não ferir as raízes. Também pode ser com um ferro desde que arredondado na ponta.
Repetir a operação até o espaço no vaso estar completamente cheio.
Qual o objetivo do pauzinho?
Simplesmente impedir que fiquem bolsas de ar, ou seja, sem terra dentro do torrão, razão principal da morte do bonsai por desidratação das raízes e consequentemente morte dos ramos.
Não basta encher o vaso com substrato, sozinho ele não consegue ocupar todos os recantos entre as raízes, então temos que o ajudar a preencher os espaços vazios para evitar a secura.
A seguir, compactar ligeiramente a parte de cima, mas sem exagerar, somente para garantir que o espaço no vaso fica bem preenchido pelo substrato.
Passo 9
Regar abundantemente e várias vezes seguidas até a água sair pelos furos do vaso.
Podemos também aplicar vitaminas para ajudar no desenvolvimento de novas raízes.
Vitaminas iberbonsai.
Nunca aplicar um adubo logo a seguir ao transplante, podia queimar as frágeis raízes, é preferível esperar um mês ou pelo menos até à nova rebentação.
Colocar o bonsai num local abrigado do frio e das correntes de ar e de preferência a meia-sombra, uma exposição ao sol direto, mesma na primavera, pode enfraquecê-lo visto não ter poder radicular suficiente para responder à transpiração da massa foliar.
Vigiar a rega mantendo o substrato húmido, mas sem nunca encharcar, regar apenas quando começar a secar a parte superior do torrão.
O bonsai está agora pronto para mais três a quatro anos, basta não esquecer de adubar com adubo líquido quando começar a nova rebentação, até setembro e com adubo orgânico como o biogold em novembro ou uma vez por mês com biogold líquido.
Ler o nosso artigo original sobre o adubo e a fertilização do bonsai.
NOTA:
- No transplante de pinus utilizamos as micorrizas para acelerar o processo de crescimento das novas raízes.
O que são as micorrizas?
É um estimulante biológico natural a base de micorrizas. O fungo cresce num substrato específico para bonsai.
Apresentação em saqueta fechada para evitar a contaminação por outros fungos ou bactérias. Este produto contém micélio vivo em crescimento.
E como funciona?
Quando introduzimos o fungo micorrizas nas raízes do bonsai, elas comportam-se de maneira diferente em muitos aspetos, como maior absorção da água e dos nutrientes e melhor resistência.
Como aplicar micorrizas?
- Colocar o conteúdo da saqueta em cima e em volta das raízes do bonsai pinus, repartindo uniformemente todo o produto da embalagem;
- Cada saqueta pode cobrir as raízes de um vaso de aproximadamente um litro, representando entre dez a vinte por cento do substrato total utilizado para o transplante do bonsai.
- Acabar o transplante com o substrato normal, ou seja, akadama hard quality, kiryuzuna ou outro.
INFO:
Podemos dividir estes fungos em três famílias principais de acordo com a forma como se relacionam com as raízes:
- Ectomicorrizas: vivem no exterior das raízes, abraçando-as;
- Endomicorrizas: vivem no interior das raízes, entre as suas células;
- Ectendomicorrizas: vivem tanto no interior como no exterior das raízes e são uma combinação das duas anteriores.
Entre as micorrizas mais próximas do bonsai, é possível distinguirt as ectomicorrizas. Estas cobrem as raízes mais finas do bonsai com os seus fios, formando uma espécie de invólucro vegetal. Este invólucro de hifas ou filamentos, multiplica a capacidade de absorção das raízes, que ficam completamente cobertas por elas.
- A utilização de micorrizas no transplante dos pinus e outras coníferas ajuda no desenvolvimento do bloco de raízes do bonsai.
IMPORTANTE:
Não podemos confundir o transplante de bonsai com o transplante de mudas de bonsai.
Uma muda, seja de sementeira ou de estaca, é muito frágil. Consequentemente a operação de transplante é realizada quando as jovens plântulas têm algumas folhas e consiste em remover delicadamente cada plântula, uma a uma, utilizando um pequeno pedaço de madeira, tal como um lápis, que é empurrado para o solo debaixo da plântula, a fim de a remover do substrato, evitando ao máximo quebrar as frágeis e ainda tenras raìzes.
Levantamo-la cuidadosamente enquanto a seguramos por um ou mais cotilédones, que são as duas primeiras folhas que emergem da semente, mas nunca pelo caule, que é demasiado frágil.
Sem perda de tempo devemos transplantá-los e colocá-los num novo substrato.Formamos um buraco no novo substrato com o nosso dedo ou com uma pequena vara, colocamos a plântula no mesmo e colocamos suavemente a terra à volta das raízes, tendo o cuidado de cobrir bem as raízes com substrato.
O substrato utilizado deve ser suficientemente fino, de boa qualidade e não conter qualquer elemento de granulação grosseira para facilitar o contacto com as raízes.
Nesta fase, o stress é imenso e é aconselhável ser o mais rápido possível entre o momento em que a jovem muda é arrancada e o momento em que é reintroduzida no solo.
Alguns rebentos jovens podem mesmo morrer em resultado do desenraizamento, o que pode causar a fratura das raízes, uma vez que a plântula é tão jovem que não pode suportar esta mudança súbita, pelo que qualquer precaução é absolumente importante.
Ler o nosso artigo original sobre o transplante de mudas de bonsai.
Para conseguir ter sucesso no transplante do bonsai, basta respeitar as regras básicas:
- Quando as árvores caducas perderem por completo as folhas, ou seja, no fim de dezembro até meados de fevereiro, período durante o qual o bonsai está com seiva descendente ou parada, é altura correta para fazer o transplante. No bonsai dito tropical o transplante é mais aconselhável no início da primavera, pois este tipo de planta não sofre as diferenças climatéricas ou estações do ano;
- Utilizar sempre um substrato de excelente qualidade com elevado grau de dureza, retenção de água e nutrientes e que deixe circular o ar com facilidade;
- Nunca deixar bolsas de ar no torrão;
Prender o bonsai no vaso com arame de alumínio anodizado, mas não muito fino para não correr o risco de partir as raízes na manutenção do bonsai;
Regar abundantemente a seguir ao envasamento;
- Não aplicar nenhum adubo logo a seguir ao transplante;
- Proteger o bonsai do frio e do sol, colocando-o num local a meia-sombra.
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