O outono e o bonsai.
O outono é a estação que se segue ao verão e precede o inverno, que no hemisfério norte começa a vinte e dois ou vinte e três de setembro e termina a vinte e um ou vinte e dois de dezembro.
O outono no sistema de calendário, está alinhado com o equinócio, um fenómeno em que o dia e a noite têm a mesma duração, marcando a transição entre o verão e o inverno.
O outono é marcado por alterações significativas do clima, da luz do dia e do ambiente natural. Este período de transição ocupa um lugar especial na observação astronómica, agrícola, literária e cultural. Desde a queda das folhas até às migrações dos animais e às reações microbianas.
O outono é uma época de mudanças e de adaptação à qual não escapa o bonsai.
As aves migratórias iniciam as suas viagens para clima mais quentes, em Portugal é fácil assistir à passagem de aves, até alguns pernoitam nas nossas terras, muito perto dos viveiros da iberbonsai, aproveitando a comida e o sossego para descansar antes de retomar a sua viagem. A comida consiste em grãos caídos, milho, rebentos jovens, raízes de cana e pequenos invertebrados como gafanhotos, lagartas, caracóis, lesmas e aranhas.
Na China, em locais de descanso e durante a migração, algumas pessoas distribuem sementes no solo para as alimentar.
Talvez um dia vejamos isto acontecer na Europa!
Ler artigo original sobre as aves migratórias, as estações do ano e o bonsai.
O outono é um período crucial de transição biológica para as árvores, uma vez que estas entram de forma progressiva em dormência. As mudanças de temperatura e de luz desencadeiam uma cascata de acontecimento a nível celular.
A saber:
Phthinoporon era o termo que utilizavam os gregos antigos para descrever esta estação, evocando a queda das folhas. Na idade média, a palavra outono surgiu do latim autumnus, ilustrando o período das colheitas e da queda das folhas.
É no outono que os bonsais ficam com uma coloração esplêndida.
É quando as folhas mudam de cor passando de verde para amarelo, laranja avermelhado acabando castanhas e por fim caem no solo. É particularmente notório no ginkgo biloba e no carpinus coreano, ficando com uma tonalidade amarelo dourado, sendo uns dos primeiros bonsais a sentir os efeitos do outono.
No outono o bonsai é espetacular.
Para o bonsai, o outono prepara-se já no final do verão com o repouso de curta duração.
A partir de meado de agosto, quando os dias começam a ficar mais curtos e também menos quentes, a vegetação vai reduzindo de intensidade, a seiva começa a fase descendente, quer dizer que a seiva já não transporta os açucares, inicialmente produzidos pela fotossíntese, já que as folhas estão a perder intensidade.
É nesse altura que reparamos que as folhas das árvores caducas começam a mudar de cor e as agulhas dos pinheiros ficam amarelas no final dos ramos, logo por baixo do gomo e das últimas agulhas de cada ramo.
NOTA:
- As últimas agulhas na extremidade de cada ramo devem estar verdes, caso contrário algo indesejável aconteceu e o ramo está a morrer.
É a altura para a poda das agulhas do bonsai pinus, acontece principalmente no outono quando pretendemos corrigir a silhueta da árvore retirando o excesso de agulhas.
A poda das agulhas velhas favorece a brotação das novas com coloração mais viva, além disso as novas realizam a fotossíntese com mais eficência.
Já no inverno algumas agulhas do bonsai pinus têm tendência a queimar, devem ser retiradas, pois estas só atrapalham o arejamento e a insolação das agulhas saudáveis.
DICA:
- Em outubro, podemos reduzir aproximadamente para cinco centímetros de comprimento as agulhas do pinus thunbergii, cortando o restante com uma tesoura.
- Temos agora na iberbonsai uma nova variedade de pinus thunbergii, chama-se Senjyumanu, árvore muito compacta e tem a particularidade de manter uma agulha muito mais pequena qua a maioria dos pinus thunbergii.
Ler artigo original sobre a poda e a pinçagem do bonsai pinus.
É também nesta altura, ou seja, no fim do verão que aproveitamos para fazer estacas semilenhosas da maioria das espécies de bonsais perenes e coníferas.
Relembramos:
- Uma estaca é um fragmento que foi cortado de uma planta e que se desenvolve conservando os seus próprios caracteres. Uma planta pode, portanto, ser fragmentada ou dividida e produzir novos indivíduos absolutamente semelhantes a ela. A propagação por estaca ou vegetativa, preserva integralmente os caracteres das variedades, ou seja, os caracteres do pé mãe.
Ao contrário da reproduçaõ por sementeira que, obviamente, mantém as características específicas, ou seja, como espécie, mas não mantém os caracteres da variedade a menos que sejam corrigidos: isto é, se eles pertencerem a linhas puras, obtidos pelo método de cultura seletiva durante muito tempo.
A vantagem da estacaria é que dá origem a réplicas de uma planta de especifidades idênticas. Enquanto a reprodução por sementeira pode produzir indivíduos muito diferentes da variedade da qual a semente é derivada, uma estaca permite obter seguramente a mesma variedade da planta mãe.
Semilenhosa é a estaca de mais fácil elaboração e a mais habitual no mundo hortícola, aplica-se a muitas espécies perenes e coníferas. Recolha das estacas no final do verão e no início do outono com madeira já amadurecida.
Consiste em recolher ramos com uma parte amadurecida e outra mais tenra e ainda verde na extremidade, regra geral em agosto até meados de setembro.
Ler artigo original sobre como conseguir um bonsai a partir de estaca.
A seguir ao primeiro período de repouso, temos a maturação e a verdadeira preparação para o repouso vegetativo do outono.
O outono é no dia vinte e dois de setembro, mas é quando as folhas começam a cair e os dias a ficarem cada vez mais curtos e mais frios, que o nosso bonsai se está a preparar para a dormência de inverno, até a seiva parar.
Podemos começar a aplicar um adubo orgânico sólido como por exemplo o biogold.
O adubo orgânico biogold original é um adubo em formato de granulado triangular limpo, cem por cento natural e não tóxico, especialmente indicado para bonsai e tem uma combinação equilibrada de nutrientes, vitaminas e minerais que fornece tudo o que o bonsai precisa para um crescimento saudável e vigoroso.
Não haverá necessidade de aplicar outros fertilizantes ou vitaminas.
Na iberbonsai fornecemos cestos próprios para colocar o adubo biogold, muito prático e sobretudo mais rápido que enterrar as pedrinhas uma a uma, basta encher o cestinho com meia dúzia de pedrinhas o que corresponde a um vaso de doze centímetros de comprimento e espetá-lo num canto do torrão. Deixá-lo durante três meses, ou seja, até começar de novo a aplicação do adubo líquido.
Para que o adubo biogold que está nos cestos possa atuar corretamente, é necessário regar por cima dele, ou em caso de imersão teremos que colocar o torrão na água abaixo do cesto que contem o adubo.
NOTA:
- Respeitar sempre a dosagem de uma pedra de adubo biogold para cada cinco centímetros de vaso e enterrar a pedra nos bordos do vaso ou então espetar o cesto num canto do vaso e longe do tronco principal.
Ler artigo original sobre o adubo biogold para bonsai.
A dormência no inverno.
O inverno começa no dia vinte e um de dezembro, com os dias mais frios, mais curtos e queda das folhas nas plantas caducas, a vegetação está completamente parada e a seiva estagnante.
Com a seiva parada, será a altura ideal para proceder à poda de estruturação, assim teremos a garantia de não enfraquecer o bonsai.
A poda de estruturação do bonsai permite manter a árvore compacta e bem definida.
Na natureza é a árvore mais alta e mais forte que sobrevive ao contrário da mais pequena e mais débil que acaba para morrer.
Ler o nosso artigo original sobre as florestas para perceber melhor.
No bonsai temos possibilidade de remediar esse problema, reequilibrando as forças e a energia através da poda de estruturação.
A poda regular dos ramos tem como finalidade o aumento do número de brotos e visto as raízes estarem limitadas num espaço reduzido do vaso, o bonsai deve repartir a energia em direção a uma maior quantidade de folhas, que ficam assim cada vez mais pequenas.
É a lei da proporção, quanto mais folhas houver para alimentar, mais pequenas se tornam, é um fenômeno natural, mas que podemos ajudar a provocar.
A poda de estruturação permite retirar os ramos que cresceram em demasia no bonsai e que estão a mais.
Cortamos os ramos pequenos e pequenas ramificações com uma tesoura fina ou grossa.
Para podar os ramos maiores, utilizamos uma podadora côncava a fim de obter uma cicatrização o mais discreta possível.
O alicate ou podadora de ponta esférica proporciona um corte côncavo e limpo que acelera o processo de cicatrização do bonsai. Aplicar uma pasta cicatrizante logo a seguir ao corte ajuda na cicatrização e impede a entrada de fungos.
Continuar a ler artigo original sobre a poda de estruturação do bonsai.
As folhas caiem porque já não são alimentadas e a árvore deixa-as cair para a sua sobrevivência durante o inverno.
Compreender como funciona o circuito de alimentação do bonsai é fundamental para a sobrevivência do mesmo e por isso vamos explicar como funciona a circulação da seiva no bonsai.
Como a seiva sobe pelos ramos do bonsai?
A seiva circula nas plantas das raízes às folhas e vice-versa, via vasos específicos: os tecidos vasculares.
Mas, na ausência de uma bomba, ou seja, sem coração para garantir a circulação da seiva, o que faz a seiva fluir?
Na primavera e antes da brotação das folhas nas caducas, é apenas o impulso da raiz e a capilaridade que fazem a seiva subir.
Assim que as folhas se desenvolvem, a evapotranspiração foliar pode desempenhar o seu papel de bomba de seiva.
A seiva bruta é conduzida pelo xilema desde a raiz até às folhas, é a seiva ascendente por onde circula a água e os sais minerais dissolvidos e extraídos pela raiz. A raiz absorve a água por osmose, movimento resultante da pressão exercida sobre os tecidos.
A seiva elborada ou floemática é a seiva descendente que transporta a seiva das folhas até às raízes. É mais grossa e conduz os açucares produzidos durante a fotossíntese assim como os micronutrientes.
A seiva bruta circula nos vasos interiores, mais perto do centro do tronco e a seiva elaborada circula nos vasos mais perto da casca exterior, ambas até às nervuras das folhas.
Sem bomba nem coração é a pressão que permite o fluxo da seiva bruta, de baixo para cima com principalmente três fenómenos:
- O impulso radicular com as raízes a absorver a água do solo, a seiva bruta vai subindo das raízes para o tronco;
- A capilaridade que corresponde à transferência de um líquido de um ponto para outro, por atração, através de um suporto poroso, como acontece com um torrão de açucar;
- A evapotranspiração: a ação do sol, do calor e do vento provocam a evaporação da água ao nível da folha e gera uma depressão nas partes aéreas do bonsai criando a aspiração da seiva.
No bonsai, retirar as folhas maiores ajuda a diminuir a evapotranspiração e ao mesmo tempo é bom porque permite reduzir o tamanho da folha, provocando uma nova rebentação.
Para a seiva elaborada, que flui de cima para baixo, a força da gravidade é o principal condutor.
A transpiração foliar é um mecanismo essencial que permite manter o equilíbrio hídrico assim como a regulação da temperatura do bonsai.
NOTA:
- Somente dez a quinze por cento da água absorvida do solo pelas raízes vai servir a fotossíntese.
Ao nível do bonsai, a transpiração depende da superfície de evaporação, ou seja, a quantidade e o volume de folhas assim como da própria constituição da folha, fina ou grossa, do clima local, da humidade, do sol, do ar, da temperatura, da luz e outras características que devemos ter em conta.
A importância e o perigo da falta de água ou do excesso de água na vida do bonsai, mesmo no outono.
AVISO:
- O ponto de murcha, determina o teor mínimo de água no solo para o qual as folhas do bonsai não podem superar a tensão capilar da água. É quando as pontas dos ramos começam a flexionar, é o momento onde devemos regar abundantemente para salvar o bonsai.
PERIGO:
- O ponto de murcha permanente, representa o teor de água no solo para o qual as folhas do bonsai começam a secar definitivamente e nesta situação poderá já ser tarde demais regar, neste caso não foram apenas as folhas que desidrataram, mas também os ramos e o bonsai acaba por morrer.
O excesso de água provoca o apodrecimento das raízes e consequentemente a morte do bonsai. É primordial vigiar os vasos de bonsai no outono e verificar que não fica água no torrão.
A rega do bonsai no outono:
- A rega do bonsai também é essencial no outono e no inverno, é importante não esquecer regar o bonsai mesmo numa situação de repouso como no inverno. Os dias mais curtos e as noites mais frais fazem, de maneira natural, com que a circulação da seiva vá diminuindo lentamente de intensidade.
Mas o bonsai necessita de uma certa taxa de humidade para viver, vigiar com regularidade se o torrão está suficientemente húmido.
Ler artigo original sobre como regar o bonsai.
No outono e se ainda não colocou arame no seu bonsai, pode agora aproveitar o momento para aramar completamente as árvores de folha caduca, assim os ramos já estarão bem posicionados para a próxima estação de crescimento. Podemos igualmente aramar as árvores de folha perene, mas apenas os ramos que não necessitem de uma mudança radical de posição, pois estarão menos flexíveis do que na primavera.
Esta é a altura ideal para tratar da madeira morta das suas árvores. Comece por limpá-la com água e uma escova de pelos de plástico. Pode depois utilizar uma escova de pelos duros de alumínio ou de cobre para uma limpeza mais profunda.
Na iberbonsai disponibilizamos vários tipos de escovas para a limpeza dos ramos.
Para trabalhar a madeira morta, podemos utilizar goivas, cinzéis e um martelo e começar a esculpir a madeira um pouco de cada vez, ou utilizar máquinas de esculpir madeira. Se utilizar uma máquina, lembre-se de a usar com moderação. tente deixar a madeira o mais natural possível.
Finalmente, podemos lixar o ramo para lhe dar um acabamento mais suave e natural.
Sendo proibido em Portugal comprar ou vender o líquido jin para aplicar sobre a madeira morta, podemos remediar com ácido sulfúrico diluido em água, colocando sempre o ácido em cima da água e não o contrário, por razão de segurança, e começando com uma percentagem reduzida e aumentando cada vez que aplicamos uma nova camada.
O outono é o momento para limparmos o bonsai, tirando as folhas secas que caíram, se as deixamos acumular em cima do torrão e caso o inverno seja muito chuvoso, corremos o risco de ver apodrecer as raízes superficiais e assim estragar o nebari.
Limpar as velhas agulhas amarelas dos pinus igualmente.
Quais os trabalhos no outono?
- Continuar a regar por imersão, pelo menos uma vez por semana se necessário sobretudo nos bonsais em vaso cascata, é uma garantia antes da chegada do inverno, a falta de água nos vasos mais altos não se nota de imediato e pode ser tarde demais regar quando nos apercebemos dos factos.
Relembramos que a técnica de verificar o peso do bonsai entre cada rega ajuda-nos a perceber melhor se há ou não necessidade de regar.
O outono é um momento mágico para o bonsai
- No outono continuamos a retirar ervas daninhas dos vasos e limpar as folhas secas em cima do torrão.
- Não convém retirar as folhas amarelas antes delas cairem, deixa a natureza fazer a sua função, é um processo perfeitamente normal e assim aproveitamos o espetáculo espontâneo.