Kusamono, shitakusa e o bonsai.
O kusamono é uma espécie de erva ou flores, cultivada num vaso muito baixo e é exposto individualmente, pode fazer parte de uma coleção ou ser apresentado só.
No japão encontramo-lo em jardim ou dentro de casa, muitas vezes acompanhado de um kakemono ou kakejiku, tradicional pintura ou caligrafia japonesa feita sobre papel de seda ou tecido, em forma vertical e podendo ser enrolada para o seu armazenamento.
O objetivo do kusamono é encantar os olhos do espectador.
Chama-se shitakusa quando exposto juntamente com um bonsai ou com um suiseki, não sendo o objeto principal da exposição, chama-se também planta de acompanhamento na linguagem comum na Europa. O shitakusa atua como auxiliar, tendo a função de complementar um conjunto realçando o tema principal.
Shitakusa significa erva rasteira. Shitakusa pronuncia-se staksa porque as vogais i e u não se lêem na língua japonesa.
O kusamono ou o shitakusa é a representação da terra.
Não podemos falar de bonsai e de exposição sem falar de shitakusa, é uma peça indispensável para realçar o nosso bonsai, tal como o kakemono ou o suiseki.
Este conjunto é dedicado à arte e a espiritualidade, onde os japoneses propõem a representação de uma paisagem completa através da exposição de um bonsai ou de um ikebana, arte japonesa de arranjos florais, associado a um ou dois outros elementos como o shitakusa.
A originalidade da planta de acompanhamento ou shitakusa é o facto de poder ser exposta em qualquer suporte, vaso original, peça de madeira ou metal, pedra ou laje, etc. Ou até mesmo sem nenhum suporte, mas o principal objetivo em relação ao vaso é ser o mais discreto possível, não pode ter rebordos ou então terão que ser muito reduzidos.
Por isso não podemos utilizar vasos de bonsai para o efeito.
Na iberbonsai temos vasos miniaturas esmaltados e com furos, de cinco a doze centímetros, perfeitos para apresentação de shitakusa ou kusamono. São vasos produzidos e cozidos da mesma forma e com as mesmas características que os vasos para bonsais.
Existem inúmeras espécies de plantas que podemos utilizar como planta de acompanhamento, perenes ou caducas, com ou sem flores: sedum, ophiopogon, oxalis, sempervivum, lickens, fetos, dendrobium, entre muitas outras. E com um pouco de imaginação podemos encontrar ervas lindas colhidas na beira de um caminho, ervas daninhas que invadem os canteiros e oferecem uma florzinha branca ou cor-de-rosa que nos faz vibrar. Tudo é bom, morangos silvestres, violetas, margaridas e até dentes-de-leão... desde que o tamanho e o respetivo crescimento da planta sejam reduzidos e que seja possível crescer num vaso estreito. Damos sempre preferência a espécies anãs, com folhas ou flores pequenas, ou que possam ser muito reduzidas. A planta deve ser condensada e se cobrir o vaso, melhor ainda. Deve ter flores ou frutos pequenos que nunca podem ser em grandes quantidades.
Não existe um tamanho máximo ou imposto, simplesmente deve existir uma harmonia entre o kusamono ou o shitakusa e o seu ambiente.
Colocados ao lado de uma árvore bonsai, refletem frequentemente o carácter da árvore, acrescentando um elemento natural à exposição. Uma planta com um estilo ligeiramente inclinado, por exemplo, pode ser exposta ao lado de um salix-chorão. As árvores altas e esguias de estilo literati são realçadas por ervas finas.
É essencial que o shitakusa reflita a atmosfera da árvore que acompanha.
NOTA:
- Aconselhamos ter várias espécies de plantas para poder acompanhar o bonsai ao longo do ano, é importante o nosso shitakusa participar nas várias estações do ano, sempre em contraste com o bonsai que pode ser de folha perene ou caduca e assim sendo devemos encontrar um shitakusa de folha caduca ou perene ou seja, de características opostas na mesma altura do ano.
- Por norma devemos ter plantas para todas as estações do ano e algumas que ficam sempre verdes. Quanto mais escolha tivermos, mais fácil será encontrar um shitakusa para cada momento, seja para uma exposição ou para a simples contemplação pessoal.
O cultivo da planta de acompanhamento requer alguma atenção especial, como o vaso utilizado é pequeno, obriga-nos a ter mais cuidado com a rega.
Esse tipo de planta pode facilmente ficar no exterior, até será mais fácil mantê-la e assim aproveitar os benefícios da água da chuva. Em contrapartida mais vale resguardá-la no verão num local mais à sombra, o diminuto conteúdo de substrato não pode garantir por muito tempo uma reserva suficiente de água.
Até pode ser bom também efetuar pulverizações diárias sobre as folhas do shitakusa.
Cuidado com o ponto de murcha:
- ler artigo original sobre como regar o bonsai para perceber a diferença entre o ponto de murcha e o ponto de murcha permanente que conduz à morte do bonsai ou do shitakusa.
É vital tanto para o bonsai e ainda mais para o shitakusa perceber o significado e a importância do ponto de murcha, único momento onde ainda há tempo de intervir para impedir que a planta morra.
O substrato deve ser muito fino, cerca de dois milímetros e com uma boa drenagem, a akadama hard quality ibaraki shohin será uma boa escolha misturado ou não com um substrato de folhas muito bem decomposto.
Mas cuidado com a utilização de substratos muitas vezes vendidos no comercio sem o mínimo de qualidade, com a collembola onychiuridae se o substrato não for devidamente decomposto. É um inseto de 0.12 a 17 milímetros que pode provocar a criação de microporosidade no substrato e assim afetar o sistema radicular do bonsai ou do shitakusa. A raiz vai secar e consequentemente o bonsai ou a nossa pequena planta de acompanhamento. Esse problema nunca acontece com a kadama hard quality ou shohin nem com a keto.
Ler artigo original sobre a collembola.
O substrato akadama que utilizamos para a maioria dos bonsais têm grãos muito grossos para o efeito, assim sendo não é recomendado, só a akadama hard quality shohin apresenta as qualidades requisitadas.
As principais qualidades da akadama ibaraki shohin encontram-se na drenagem e no arejamento, fatores primordiais para a criação das raízes frágeis do shitakusa, na capacidade de retenção da água e dos nutrientes.
Ao regar, um bom substrato deve apenas reter a quantidade de água que o grão pode absorver, deixando evacuar o excedente pelos furos do vaso.
A akadama hard quality shohin é uma argila japonesa de origem vulcânica, composta por grãos reconstituidos e sem nutrientes. Primeiro a argila é esmagada, cozida e após tratamento e secagem, tem uma estrutura homogênea.
As vantagens da akadama são evidentes: drenagem perfeita, mantem a humidade necessária, deixa circular o ar e a água, retém os nutrientes que são elementos fundamentais para o crescimento do shitakusa e do kusamono.
Ler artigo original sobre a akadama para bonsai.
Nalgumas situações podemos ter necessidades de colocar keto no vaso quando houver receio que o substrato como a kadama hard quality shohin não se segura aquando da rega. A keto é um substrato de excelente qualidade, de consistência pastosa, que favorece o crescimento de raízes em situações difíceis como a plantação sobre pedra ou em vaso reduzido e tem a vantagem de reter o substrato.
NOTA:
- É possível utilizar somente a keto, sem nenhum outro substrato, as plantas conseguem viver porque é um produto natural e as raízes agarram-se sem problema.
O kusamono ou shitakusa deve ser colocado num vaso bastante pequeno, frequentemente esmaltado e raramente retangular, optamos de preferência por um vaso oval ou redondo.
Mesmo que sejam permitidas algumas exceções na apresentação tradicional japonesa, o vaso deve permanecer sóbrio e não atrair demasiado atenção. Podemos criar um kusamono colocando-o sobre madeira flutuante, sobre um suiban, uma pedra ou uma laje tipo ardósia.
Devemos lembrar-nos que na natureza, estas ervas vivem ao nível do solo. O vaso também não será muito alto, mas, mais uma vez, isso dependará da planta escolhida. É recomendado esconder a base da laje ou da pedra com musgo ou líquen.
No kusamono ou no shitakusa a discreção do vaso é regra de ouro no momento da apresentação.
É recomendado utilizar vasos com furos para evitar a estagnação da água no recipiente que poderia provocar o apodrecimento das raízes da planta de acompanhamento. Mesmo que muito reduzido é indispensável o vaso miniatura ter furos para deixar evacuar a água em excesso.
Regar com regularidade e aplicar adubo de forma reduzido para não provocar o crescimento em demasia do shitakusa ou do kusamono. A presença de furos também permite-nos passar um arame de alumínio para prender a planta ao vaso se necessário, o processo é o mesmo que praticamos no bonsai na altura do transplante. Podemos igualmente colocar redes de plástico nos furos do vaso para evitar que o substrato saia.
A utilização do shitakusa ou planta de acompanhamento tem como principal objetivo realçar a peça mestre, seja um bonsai ou um suiseki, e por isso não pode ser confundida com o bonsai, pelo contrário deve apresentar características opostas para garantir um certo contraste que permita distinguir ainda mais o sujeito principal.
A nossa planta de acompanhamento ou shitakusa deve integrar-se no cenário procurado, realçando o bonsai sem se assemelhar a ele. Por exemplo não devemos utilizar uma planta de acompanhamento florida com um bonsai com flores, mas sim uma planta verde para contrastar e vice-versa.
Mesmo não tendo medidas definidas, a planta de acompanhamento deverá ter as medidas certas para integrar-se na perfeição no panorama e respeitivo cenário.
O equilíbrio é fundamental e é a primeira coisa que o nosso olho irá descobrir.
A planta de acompanhamento ou shitakusa deve fazer lembrar a estação do ano, relativamente à cor das folhas, à presença de flores ou de cogumelos no outono.
No caso de misturar várias plantas de acompanhamento no mesmo vaso, estas devem ter a mesma proveniência, ou seja da mesma região.
IMPORTANTE:
- A parte superior do shitakusa não pode ultrapassar o nível da mesa de apresentação do bonsai.
O shitakusa faz parte integral no mundo do bonsai, é um aliado na apresentação da nossa pequena árvore, pode parecer insignificante, mas é graças a esta pequena planta que o nosso bonsai será destacado e valorizado. As duas peças devem fazer lembrar uma imagem o mais natural possível, são complementares contrastando uma com outra.
A observação atenta na natureza ajuda-nos a conseguir o equilíbrio visual, realçando o espírito que tencionamos transmitir ao observador.
O shitakusa ou planta de acompanhamento nunca pode ser mais vistosa que o bonsai.
Deve fazer lembrar o local e o ambiente natural do bonsai, por exemplo a montanha ou a planície.
O vaso da planta de acompanhamento deve ser o mais discreto possível, muito baixo e quanto menos visível melhor.
Relembramos que não existem regras específicas quanto às medidas para a apresentação de plantas de acompanhamento, ou seja o kusamono ou o shitakusa, o bom senso e o bom gosto são a base do sucesso.
Ler mais sobre o glossário do bonsai e significado.